domingo, 18 de março de 2012

SP: Em menos de 24h, 20 vítimas sofrem com ações violentas

“Quando eu vi que eles estavam armados, eu falei abaixa as crianças”, diz a motorista de van escolar Shirley de Souza.

“Eu nunca tinha visto tanta arma, tanto barulho”, diz um homem.

Nesta semana, quatro ações impressionantes em menos de 24 horas fizeram mais de 20 vítimas na cidade, das 7h de segunda-feira , 12 de março, até as 3h de terça-feira (13).

A primeira foi em um bairro da Zona Sul. Começo da manhã, 7h30. “Eu parei exatamente nesse lugar, nesse farol”, conta a motorista da van.
Um homem aborda a van escolar. “Ele falou: “Abre, senão vou te matar”, colocando a mão na cintura”, detalha a motorista.

A caminho da creche,13 crianças, de 1 a 4 anos de idade. E todas viram reféns.
“Moço, pelo amor de Deus, eu estou com criança dentro do carro, não faça nada, o carro está cheio. Só que ele falava o tempo todo: “Vou matar vocês todos””, reproduz Shirley.

O homem é o pedreiro Adriano Aguiar, de 33 anos. Ele já cumpriu pena por roubo e porte ilegal de arma. Naquela manhã, ia roubar um carro. Uma das vítimas foi o vigia aposentado Antônio Lages Carvalho. “Virei para trás, tinha o cara. Já foi com a faca no meu peito”, conta.

Adriano não consegue sair com o carro. Foge a pé, rouba uma perua e, perseguido pela guarda metropolitana, sequestra a van das crianças. “Ele entrou, pegou a direção, me jogou para o banco do passageiro e saiu em velocidade muito alta”, conta Shirley.

Adriano entra na contramão, como mostram imagens exclusivas registradas por câmeras de segurança. Ele só para porque bate em uma moto. “Nós abrimos a porta da van, conseguimos imobilizá-lo e tirá-lo da van”, conta o guarda civil Deusdedite Ferrari.

O bandido vai parar na cadeia. E nenhuma criança sai ferida. “A gente conseguiu tirar todas sem nenhum arranhão”, conta a monitora da van Débora Oliveira.

Mais um crime. Do outro lado da cidade, três homens armados, um deles com farda da PM, anunciam um assalto em um banco. Segundo a polícia, os bandidos intimidaram os funcionários com uma pasta com dados pessoais de todos da agência. Endereço, telefone e até a marca do carro. E eles fogem com R$ 400 mil.

Outra quadrilha mostra a mesma ousadia no início da tarde, em outra agência bancária, na Zona Sul. Desta vez, às 14h30, dentro de um dos hospitais mais importantes de São Paulo. O sistema de segurança não barra os três assaltantes.

““ É um assalto, é um assalto”, e já foram entrando”, conta o aposentado João Claudino Ferreira.

Eles se deixam fotografar na recepção. Passam pelo saguão de um prédio de exames médicos, vigiado por várias câmeras. E saem do hospital com quase R$ 30 mil.

Cai a noite em São Paulo. E a polícia mais uma vez entra em alerta. Agora, o chamado vem do Jardim Arpoador, na Zona Oeste:

PM: Polícia Militar, emergência.

Testemunha: Ouvi umas explosões aqui perto.

O barulho vem de um banco. Já é madrugada de terça-feira (13) e a quadrilha de pelo menos dez homens destrói quatro caixas eletrônicos, às 2h45. Antes do ataque, os bandidos tinham interceptado um ônibus. Renderam um homem e outros dois funcionários da empresa de transporte.

“Apareceu uns indivíduos armados, fortemente armados. Ele falou para o motorista: “atravessa o ônibus!””.

Com o ônibus bloqueando a avenida, os criminosos partiram para o assalto.

“A gente olhando para o ônibus, de repente vimos um pessoal vindo encapuzado com a arma na mão, sentido ao banco”, contou uma testemunha.

Tudo dentro da agência é registrado por câmeras de segurança. Com pés de cabra, os bandidos abrem buracos nos caixas. E colocam explosivos. “Foi a hora das quatro explosões. Chegou a tremer o lugar onde nós estávamos”, diz a testemunha. A polícia aparece, mas não consegue se aproximar do banco. O ônibus atravessado na rua dá cobertura aos bandidos.

O Fantástico teve acesso com exclusividade à conversa dos policiais:

Policial 1: Tem um ônibus atravessado na pista.

Policial 2: Se vier por trás, dá para encostar também ou não?

Policial 3: Nós cercamos aí, mas a viatura está do outro lado do banco. Olha aí, estão atirando!

No meio do tiroteio, os funcionários do ônibus tentam se proteger. “A gente ficou escondido, três homens em um pneu traseiro, aquele pneu traseiro do lado do passageiro”, conta o trocador.

A quadrilha foge por uma viela, com o caminho livre. Ninguém é preso. Pelo rádio, um policial informa: a ação terminou sem feridos. “ Graças a Deus, Copom, sem novidade, só a princípio a viatura atingida por um tiro de fuzil”.

“Nunca tinha passado por uma situação tão tensa como essa. Estou muito abalado, estou afastado 14 dias da empresa. Tem hora que volta tudo, parece que estou vendo tudo, entendeu?”, diz o trocador.

Nessas quase 24 horas, pelo menos 17 criminosos participaram dos ataques. Só um foi preso.

“Esses crimes causam uma sensação muito grande de insegurança porque são crimes em comunidades próximas a nós”, diz o professor de direito da USP Maurício Zanoide.
Nos últimos anos, a criminalidade diminuiu na cidade, segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Como a taxa de homicídios, que caiu mais de 80% nos últimos dez anos.

A segunda-feira violenta desta semana foi considerada um dia atípico pelo comando da polícia.

“Óbvio que dependendo do dia ou do horário pode acontecer uma ocorrência desse tipo como a que ocorreu. Mas a polícia está fazendo a prevenção, trabalhando”, diz o porta-voz da Polícia Militar de São Paulo Major Marcel Soffner.

A cada 24 horas cerca de 100 criminosos são presos na capital. Só nesses primeiros meses de 2012, a PM prendeu mais de 40 assaltantes de banco na cidade.

“Hoje você não passa um raio de um quilômetro quadrado sem ver uma viatura. Se a gente não prende hoje, amanhã nós prendemos”, afirma Soffner.

É o que esperam vítimas como Shirley, a motorista da van das crianças. O marido dela foi morto a tiros há dois anos, em um crime até hoje não esclarecido. “Lembrei bastante, principalmente dos meus dois filhos, que perderam o pai de uma forma brutal e que poderia ter acontecido comigo a mesma coisa”, diz Shirley.

Agora Shirley se recupera do novo trauma. O trauma que viveu na segunda-feira de medo em São Paulo. “Não me sinto segura”, afirma a motorista.
Fonte:Fantástico

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