quarta-feira, 4 de abril de 2012

Caretas vivem antiga tradição

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Em Iguatu, o grupo da localidade do Recreio e Morada Nova é bem vestido e acompanhado por músicos
 
 
Em várias cidades, grupos continuam com a tradição de saírem nas ruas com máscaras e chocalhos
Jardim. Começou, ontem, uma das mais tradicionais festas durante a Semana Santa na região do Cariri. A Festa dos Karetas de Jardim é uma das mais antigas e importantes manifestações folclóricas da região. A tradição vem sendo cultuada desde o fim do século XIX. A programação oficial vai até o dia 12 deste mês. Os homens de máscaras, chocalhos e também vestidos com roupas esfarrapadas, invadem as ruas do município e brincam. Trata-se de uma mistura do sagrado e do profano.


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Outra programação da Semana Santa foi a 3ª Procissão do Fogaréu realizada em Várzea Alegre. A caminhada reuniu grupos de penitentes de Barbalha

A Associação Cultural dos Karetas de Jardim é uma das entidades que tem lutado pelo fortalecimento da festa. Até cursos para confecção de máscaras são oferecidos pela associação, para possibilitar maior participação dos brincantes, que podem ser figuras engraçadas, folclóricas, que dão um colorido especial às ruas, com máscaras criativas.


Necessidade de divulgação

Segundo o presidente da entidade, Luiz Lemos, as manifestações folclóricas na cidade necessitam de um trabalho mais amplo de divulgação, diante da sua importância e das tradições. A festa, de acordo com ele, vem sobrevivendo, mesmo com as ameaças da modernidade. São rapazes, homens de mais idade — todos no intuito de festejar o momento, que antes tinha outro sentido. A festa era da colheita e o espantalho mais tarde acabou sendo substituído por Judas Iscariotes. As manifestações foram iniciadas na zona rural e hoje toma as ruas da cidade de Jardim.

Para Luiz Lemos, a festa em Jardim representa atualmente uma singularidade cultural. “A golpe de muito sacrifício, ainda vem sendo conservada no calendário cultural do nosso Estado”, diz.

Às 15 horas de ontem, foi realizada a abertura da festa com passeata do pau do Judas adulto e mirim, brincadeiras e premiações. Às 20h, foi realizado show com o grupo Clavesol e entrega de prêmios das melhores caretas. Hoje, às 9 horas, será hasteado o pau do Judas. Os caretas seguem pelas ruas com suas brincadeiras.


Passeata e premiação

A passeata com a subida do Judas e premiações acontecem amanhã, na Sexta-feira da Paixão, às 21 horas. No dia 11, sábado, haverá festa com bandas de forró, às 20 horas. O encerramento, no domingo de Páscoa, será com a passeata de despedida do Judas, com a malhação. É o ápice da festa, em que moradores da cidade e da zona rural manifestam a sua alegria de fazer parte da maior festa do município.

A Festa dos Karetas está incorporada às tradições de Jardim e mostra o sincretismo da cultura local. A Associação foi fundada na década de 80, e oficializada no dia 8 de agosto de 1994. Reúne três elementos da tradição popular: os caretas, o roubo durante a Semana Santa e a malhação do Judas.

Os primeiros registros históricos da brincadeira em Jardim são do fim do século XIX. Os agricultores se reuniam e confeccionavam uma espécie de espantalho, a quem chamavam de “Pai Véi” ou “Vosso Pai” e, mascarados, com chocalhos e chicotes, percorriam vários sítios em busca de donativos para o Sítio do “Pai Véi”, onde faziam uma grande festa e malhavam o espantalho. A festa se urbanizou e passou a utilizar o personagem bíblico.

A Festa dos Karetas se tornou um evento tradicional e ocorre durante toda a Semana Santa. Como antigamente, se caracteriza por mostrar personagens mascarados, vestidos de forma diferente, com chocalhos na cintura e animando a cidade. O maior destaque é a figura do Judas, que hoje é confeccionado pelo escultor e artista plástico Luiz Lemos.

Ele fica com a responsabilidade de fazer um Judas excêntrico e urbano atendendo aos novos requisitos da festa. Para isso, são escolhidos temas dentro da dentro da atualidade. A tradição da festa chama a atenção de estudiosos e foi tema de várias pesquisas.

Segundo o trabalho de pesquisa de Delídia Romão Pinto, merece destaque em Jardim a Irmandade do Santíssimo Sacramento, fundada em 1882, atualmente com 96 associados entre homens e mulheres, mas apenas 40 estão ativos. Na quinta-feira, após a realização da celebração da Missa do Lava Pés, a Irmandade e uma legião de fiéis adoram o Santíssimo até a meia-noite, hora de pedir as Alvíssaras.


Procissão

Na sexta-feira, após a celebração da Paixão e Morte de Jesus Cristo, a Irmandade sai em procissão pelas ruas, “ostentando suas vestes típicas, homens de paletó e gravata, mulheres de branco, e todos portando lanternas e roupas vermelhas sobre suas vestes, com seus passos marcados pela cadência das matracas e seguidos por uma legião de católicos”, descreve o trabalho de pesquisa.

O tradicional testamento do Judas é lido no domingo, quando o personagem é aniquilado. Segundo o texto, os bens ficam para o povo.

CENTRO-SUL

Grupos saem em busca de donativos
Iguatu. As ruas desta cidade estão mais coloridas e animadas com a presença de quase uma dezena de grupos de caretas, oriundos da zona rural e de bairros da periferia deste município. É a tradição folclórica que é mantida nos dias santos. Vestidos a caráter — rostos encobertos com capuz, saiotes de tecidos com cores variadas, chocalhos, música e muito barulho —, os brincantes saem em busca de esmolas nas residências e lojas comerciais.


O objetivo dos grupos de caretas é coletar gêneros alimentícios, bebida e dinheiro para formar a tradicional brincadeira de malhação do Judas, na noite do próximo Sábado de Aleluia, para a madrugada de domingo de Páscoa, quando os católicos celebram a Ressurreição de Jesus Cristo.


Nas áreas rurais, os caretas formam o chamado sítio, um espaço demarcado, onde as coletas são guardadas no sábado à noite. Existe o desafio de se tentar retirar qualquer produto desse espaço.


Os guardas perseguem os desafiadores até um determinado ponto, tentando chicotear os que participam da brincadeira do furto de alimentos.


Neste ano, o grupo formado por moradores das localidades de Recreio e Morada Nova se destaca por estar bem vestido e acompanhado por músicos, sanfoneiro, zabumbeiro e trianguista. Os caretas trazem animação para as ruas da cidade e medo para as crianças. Os brincantes contam que as mães ajudam na confecção das vestimentas, que são camisas e calças feitas a partir da montagem de peças coloridas de retalhos.


No dia a dia, quando não estão brincando, os caretas são estudantes e jovens agricultores, que ajudam os pais na lavoura. Nessa época do ano, confeccionam as roupas e formam os grupos que percorrem as ruas da cidade em busca de donativos. Alguns viajam até 35 quilômetros, como é o caso dos caretas dos Tipis, localidade limite entre os municípios de Iguatu e Acopiara.


Malhação do Judas

Os caretas mantêm viva a tradição das comemorações profanas e festivas, relacionada com a malhação do Judas, no fim da Semana Santa. No sábado passado, conhecido popularmente por sábado magro, que antecede o de Aleluia, o grupo do Recreio e Morada Nova trouxe alegria para as ruas da cidade. Os brincantes dançavam em ritmo animado, com ginga própria e percussão do forró sertanejo. Conseguiram chamar a atenção dos moradores da cidade.


Os caretas, como o próprio nome sugere, são mascarados e não se identificam. Em grupo, eles cercam os transeuntes e impõem a doação de dinheiro ou de algum alimento. Batem nas portas das casas e para as crianças são motivo de medo e corre-corre. Há grupos mais carentes, oriundos da periferia da cidade, que saem apenas com o objetivo de pedir esmolas para o desjejum, no Sábado de Aleluia. Não fazem, portanto, a brincadeira do sítio, o cercado de proteção dos alimentos.

Quando os grupos não têm condições de manter um trio de tocadores — sanfona, zabumba e triângulo —, utilizam alternativas de recursos modernos, como o uso de um gravador portátil. Com muito barulho e urros, eles saem dançando pelas ruas da cidade, ao ritmo do tradicional forró. Preservando ou não a característica regional, os brincantes contribuem para que a tradição folclórica permaneça viva.


Procissão do Fogaréu

Com cânticos religiosos e uma seqüência de rituais, a 3ª Procissão do Fogaréu abriu, no município de Várzea Alegre, as celebrações da Semana Santa. A caminhada reuniu grupos de penitentes da cidade de Barbalha da ordem de Santa Cruz, liderados por Severino Rocha, acompanhado por 17 mulheres, e de Várzea Alegre dos bairros Riachinho, Varjota, Patos e Conjunto Nossa Senhora de Fátima. A procissão saiu da capela de São Vicente de Paulo, no Centro, e seguiu para a capela de São Francisco, no bairro Betânia.

O secretário municipal de Cultura e Turismo, Hélio Batista, disse que o evento tem por objetivo manter viva as tradições durante esta época do ano, na fé do povo.

Mais informações:

Associação Cultural dos Karetas de Jardim
Rua Padre Miguel Coelho, 43
Centro da cidade de Jardim
(8) 3555.1352


Fonte:Diário do nordeste

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