quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Gritar, ameaçar e humilhar uma criança são atitudes tão nocivas quanto bater ?
Tratamentos
degradantes de crianças e adolescentes pelos pais, já vem provocando
mudanças.É uma atitude politicamente incorreta, em especial depois que
psicólogos, psiquiatras e educadores passaram a questionar seus
resultados como medida educativa. É óbvio que é praticamente impossível
saber o que acontece dentro dos lares, mas, hoje em dia, quem desfere
uns tabefes, em local público, é alvo imediato de olhares de reprovação
–e pode ter de dar explicações ao Conselho Tutelar. Some-se a isso os
vídeos caseiros de flagrantes de violência e uma patrulha informal está
formada.
Para os especialistas em comportamento, no entanto, não é só bater que é
prejudicial e traumático. "Educar não é fácil. Não nascemos sabendo ser
pais. Apesar de os tempos terem mudado, costumamos seguir os modelos
que já conhecemos, de nossos pais e avós", explica o pediatra Moises
Chencinksi. "E, se não se bate mais, por ser politicamente incorreto, e
de fato inadequado, busca-se outras formas de ‘opressão’ para ‘educar’:
gritar, castigar, xingar, ofender, humilhar...", declara. E, por essa
lógica, o próprio especialista questiona: quem gosta de ser humilhado?
Quem aprende algo assim? Quem pode ser feliz sendo tratado dessa forma?
Na opinião da psiquiatra Ivete Gianfaldoni Gattás, coordenadora da
Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Universidade
Federal de São Paulo, primeiro é preciso entender que bater em um filho
com a pretensão de educá-lo ou corrigi-lo é um engano, já que está
apenas a serviço da descarga de tensão de quem pratica a violência. "Mas
xingar, humilhar ou gritar, além de colaborar para que as crianças
cresçam com medo e a autoestima prejudicada, nos afastam delas", afirma.
Para Miriam Ribeiro de Faria Silveira, diretora do Departamento de
Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo, quando os pais
gritam o tempo todo com a criança ou com o adolescente demonstram muito mais desequilíbrio do
que autoridade. "O pior é que elas e eles também começam a gritar e ficam
ansiosos, angustiados e com muito medo, pois, onde deveriam ter seu
porto seguro e soluções, encontram pais desesperados em se fazerem
obedecer", diz.
A psicóloga Suzy Camacho concorda que a violência verbal é tão
agressiva quanto a física, principalmente se os gritos tiverem uma
conotação de ameaça: "Uma hora eu sumo e não volto nunca mais!", "Ainda
vou morrer de tanta raiva", "Seu pai vai brigar comigo por sua causa!".
"Diante de frases como essas, as crianças ou adolescentes se sentem responsáveis por
coisas que não são", explica Suzy. Ela também destaca o efeito
devastador que os rótulos têm para a autoestima: chamar o filho de
preguiçoso, bagunceiro, inútil,tenho vergonha de você por exemplo. "Até os sete anos, a
personalidade da criança está em formação. Qualquer termo pejorativo pode marcar
para sempre. Tente corrigir ou apontar a atitude, nunca uma
característica", afirma. Exemplos? "Não gosto quando você deixa seu
quarto desarrumado", "Você precisa prestar mais atenção no que eu falo"
etc.
Para as crianças e adolescentes, a opinião dos pais e educadores a respeito de suas
atitudes, da sua performance ou mesmo de seus atributos de beleza e
inteligência são muito importantes na construção de uma personalidade.
Ao perceberem que os pais não a admiram, elas ou eles tendem a se depreciar, o
que pode culminar em casos de depressão, agressividade e fuga do
convívio familiar. "Xingar e usar palavrões trazem consequências, pois é
uma forma de depreciação. E como todas as crianças e adolescentes costumam copiar os
pais, consequentemente, vão se comunicar dessa forma", diz Miriam
Silveira. Já castigos cruéis despertam nas crianças a agressividade.
"Nas mais extrovertidas observaremos atitudes hostis com adultos, com
outras crianças e animais de estimação. Nas tímidas, as sequelas são
angústia e ansiedade, sentimentos que podem impedir um desenvolvimento
neuro-psíquico normal", diz Miriam.
Em muitos casos, a irritação e o cansaço causados por um dia difícil
não conseguem ser controlados e o resultado acaba sendo a impaciência
com os filhos. Os passos seguintes são a culpa, a frustração, a
compensação para, no próximo dia, começar tudo de novo, num ciclo
nocivo. Para os especialistas consultados por UOL Comportamento,
a velha tática de contar até dez antes de tomar uma atitude drástica
opera milagres. "Um adulto sabe que pegou pesado quando se sente
angustiado. Dar um tempo freia essa sensação ruim e ajuda a esfriar a
cabeça", conta a psicóloga infantil Daniella Freixo de Faria. "E se os
pais, mesmo assim, extrapolarem, sempre recomendo pedir desculpas,
porque um grito ou uma palavra mais pesada causa um abalo na segurança
que o filho tem nos pais. Admitir que ficou triste com o que aconteceu,
que estava bravo, que exagerou, demonstra respeito e ajuda a recuperar a
confiança e o carinho", afirma ela.
Fonte:UOL Comportamento
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